Brasília, Capital do Choro

Confira uma matéria especial veiculada no Guia Musical de Brasília sobre Reco do Bandolim, presidente do clube do Choro de Brasília e fundador da escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. A reportagem conta como iniciou a relação de Reco com o choro e também traz um pouco da história do Clube. Reproduzimos abaixo na íntegra, confira:
BRASÍLIA, CAPITAL DO CHORO
Queiram ou não queiram os juízes, o Reco do Bandolim, presidente do Clube do Choro, é um guerreiro que está à frente do primeiro batalhão de defesa da música no Distrito Federal. Ele tem uma concepção geopolítica da importância da cultura na vida do país. “O Clube do Choro funciona como um braço do Estado, e é papel do estado defender a cultura do Brasil. Deveria assumí-la como uma questão de segurança nacional”, diz ele a sério.
Parece exagerado, mas não é exatamente assim que a Inglaterra trata a difusão das obras de Shakespeare mundo afora? Não é dessa maneira que os Estados Unidos encararam os lançamentos dos filmes de Hollywood no mercado global? Porque será que a China impõe cotas para a exibição dos blockbuster americanos no país? Os estrategistas das relações internacionais chamam esse tipo de postura de soft power, a maneira de um país se impor ao outro não com porretes (hard power), mas através de valores culturais ou ideológicos.
Nessa linha, o Reco acha que Brasília deve se assumir como a Capital do Choro. Simplesmente porque, diz ele, “o choro é a primeira manifestação musical genuinamente brasileira. É o nosso melhor produto nacional”.
O irônico é que ele mesmo só veio a conhecer o choro depois de tocar guitarra na fase de efervescência dos Novos Baianos, quando Gil e Caetano se encontravam no exílio em Londres. Ele conta que, passando férias em Salvador, em 1974 ou 75, ouviu Moraes Moreira e Armandinho tocarem Noites cariocas de Jacob do bandolim. Foi um choque, uma revelação, conta ele. “Eu me dei conta de que naquela época os meios de comunicação estavam cometendo um crime de lesa-pátria contra a juventude, escondendo dela o que era a música brasileira”.
Quem é Pixinguinha? De volta a Brasília, percorreu várias escolas e, para sua surpresa, não encontrou ninguém que conhecesse Pixinguinha. Teve sorte, no entanto, quando passou a frequentar músicos que o conheciam de perto. “Nessa época estava começando aqui o movimento do choro, com Odete Ernest Dias, Celso Alves da Cruz, o Bite, o Tio João, gente que veio do Rio de Janeiro em busca de oportunidade de trabalho e moradia na nova capital. A Rádio Nacional empregava um monte desses músicos”. Deixou a guitarra de lado, agarrou o bandolim, ensaiando horas seguidas por conta própria, por falta de professor. Da cada de um tio levou para casa uma coleção de discos de Jacob do bandolim, que ouvia o dia inteiro. Daí entrou na sua história outro personagem, Waldir Azevedo, que veio para Brasília ficar com uma filha depois de perder outra no Rio de janeiro. “Em resumo, o choro me pegou na veia”, diz.

 

Foi também nessa altura que o Clube do Choro começou a ser organizado, de início, só por amor à arte, mas com tanta substância que o então governador do DF, Elmo Serejo, topou ceder o espaço subterrâneo atrás do planetário para sediá-lo.
Muito amadorismo levou o projeto a um beco sem saída, ficando o clube fechado dez anos, de 1983 a 1993.
Um sindicato ameaçou ocupar o espaço. Brios provocados, os chorões reagiram, convocando o reco para a retomada. Ele deixou de dirigir 13 rádios da Radiobrás para enfrentar a missão. Reorganizou o projeto, em que incluiu (audácia!) a fundação da Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello, hoje com 1.100 alunos. Do governo Cristovam obteve a cessão permanente do terreno. De Oscar Niemeyer ganhou o projeto para a construção da sede nova.
A história continua.

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